Além dos Muros do Jardim é um livro de artista onde dou continuidade à minha pesquisa de subversão de materiais e técnicas tradicionais, assim como em abordar questões relativas à memória, ao efêmero, ao apagamento, ao esquecimento e a transitoriedade. A fotografia aparece como linguagem, porém não considero esse trabalho precisamente fotográfico, pois o suporte difere do usual e o papel de algodão tingido ganha novas atribuições pela sua precariedade. O processo de impressão é similar ao da fotogravura no qual busco as imperfeições, as sutilezas, nos detalhes ausentes na precisão do registro fotográfico. As velaturas do tempo são perceptíveis pelo envelhecimento e despigmentação do papel ocasionada pelos raios UV que sensibilizam o suporte e grava a imagem através da luz do sol, esses mesmos raios ocasionam o seu desvanecer. A imagem apreendida – uma antiga fábrica de tecidos desativada e abandonada de 1903 – passa a ser uma ilusão enaltecida pelo pigmento cor violeta e ao mesmo tempo uma presença física como representação do real. Além dos Muros do Jardim ganha uma potência relevante através das suas imagens onde a vegetação se apodera da arquitetura num processo que podemos nominar de entropia. O homem, ser pertencente da natureza, precisa repensar as suas ações na urgência em construir uma comunidade global, planetária, reflexão pertinente nesse momento atual.